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ou paixoens, segundo a magica combinação da doçura, amenidade, aspereza, rudez, ou terribilidade com que o plectro fere as cordas, ou a trombeta rompe os ares: a primeira governa os homens pela evidencia das consequencias; a segunda regeos pela moralidade do maravilhoso: ambas pintam; a prosa de morte-cor, a poesia em colorido.

Porém aquelles mesmos traductores que tem vertido em verso solto, ou rimado o Paraiso Perdido de Milton, não fizeram té agora outra cousa mais do que paraphrasear o seu texto, omittindo episodios, senennobrecem aquelle

tenças, e versos que poema; e isto talvez

porque não o entenderam, ou quizeram purifica-lo d'aquillo, que elles julgaram ser defeito; não tendo em ambos os casos razão alguma que os favoreça; porque esta Epopeia de Milton tem sabios e eruditos expositores, e commentadores que deviam consultar antes de se

b.

determinarem a traduzi-la, sem enganarem o publico; que por taes versoens mal pode avaliar a belleza e sublimidade della, ou o merecimento do seu famoso autor.

A lingua ingleza no tempo em que Milton escreveo não tinha ainda o polimento, e euphonîa, que depois de Pope, té hoje tem adquirido; e portanto não hé pela suavidade, pureza da dicção, e conveniencia do metro, que o Paraiso Perdido se faz mais recommendavel e celebre. O Grande Epico inglez hé, e será sempre digno de eterna fama pela nobreza, e magestade dos pensamentos, elevação das ideas, altivez e energia das imagens, propriedade dos caracteres, movimento das paixoens, combinação dos contrastes, interesse, novidade e verosimilhança do maravilhoso epico: elle hé sim original e incomparavel na conveniencia das pinturas, na rapidez e congruencia das descripçoens, e onomatopeias, que realça pela mesma aspereza,

e syncopes dos vocabulos, pleonasmos, e perissologias da dicção. O que fez dizer ao rigido critico D'. Johnson, que a Milton se podia applicar, o que diz Jonson de Spenser, que a linguagem em que elle escrevia era a que Butler chamava Dialecto Babylonico, em si mesmo duro e barbaro, mas que composto por hum homem de genio e gosto, formava o vehiculo de mui grande instrucção e deleite*. Assim os assumptos que Milton descreve, e a variedade dos quadros que apresenta fazem mudar as sombras em luz, e os vicios e licenças poeticas em elegancias, e bellezas. Eis aquî o genio do poeta ; e a linguagem viril dos antigos Druidas, Bardos, e dos Ossians se lhe amolda, presta, e obedece: ella hé conforme ao estilo de Moisés, Jeremias, Isaias, Ezechiel, e dos outros Prophetas, que animam, e poem em movimento espontaneo as agoas do Mar roxo,

* The Works of S. Johnson, vol. 9, f. 180, edic. de Londres de 1810, art. Milton.

as Faias e Cedros do Libano, as espadas e lanças, as montanhas de Gelboé, os valles de Gehenna, os livros que bradam, e os mirrhados ossos dos filhos de Israel, que se ligam e armam linguagem, cuja fecundidade e elevação brilha apenas em algumas passagens das Odes de Pindaro, de quem o Mestre Venusino nos diz. « Fervet immensusque ruit profundo Pindarus ore: » e tal estilo Milton sabiamente imitou, servindo-se das metaphoras, apostrophes, et comparaçoens mais atrevidas, e sublimes dos maiores vates profanos e sagrados.

O Poema do Paraiso Perdido foi impresso pela primeira vez em Londres, no anno de 1667, em 4° pequeno, contendo somente dez livros, ou cantos. Fez-se depois, no anno de 1671, huma segunda edição do mesmo Poema, em 80 pequeno, dividido em doze livros, ou cantos, e esta mesma edição se foi repetindo debaixo de novos

frontispicios té o anno de 1674, em que morreo o autor. Guilherme Julio Mickle, que traduzio, ou propriamente fallando paraphraseou mal os Lusiadas de Camoens em verso rimado inglez*, dissertando entre o 9° 10° canto, a fim de desculpar João Milton de ter empregado na conclusão do seu Poema o mesmo meio de que se servîra o Epico Portuguez para findar o dos Lusiadas, diz que não hé menor honra a de se imitar hum Homero, ou hum Virgilio, do que a de ser imitado por hum Milton. Fanfarrice esta que só prova que o autor do Paraiso Perdido vio, consultou, e imitou a traducção que dos Lusiadas fez em oitava rima ingleza Sir Richard Fanshaw, que foi Ministro de Inglaterra em Portugal, dedicando esta sua obra ao Conde de Straf

* J. Mickle omittio a traducção do vers. 5o da 65a. Est. do 6o Canto em que o Poeta cantando o vencimento dos doze de Inglaterra diz « Cahe a soberba Ingleza do seu Throno» por julgar que isto deslustrava a Nação Bri

tannica.

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