T PROLOGO DO EDITO R. ODOS fabem quao proveitofas tem fido as Traducções por ellas fe alcançao conhecimentos uteis, que fe fariaō difficultofos a quem lhe faltaffe a inf trucçao das Linguas, em que faō tratadas as Artes, ou Sciencias, Os Francezes dotados de hum defejo de immortalizar o feu nome fe tem affadigado em trasladar para a fua Lingua Obras utiliffimas, os melhores Poetas, e tudo quanto lhes parece poderá reformar os coftumes, educar os outros homens, e inftruillos em todas as Sciencias. Os Portuguezes pois, lembrados dos feus ditofos dias, daquelles dias em que esta Naçao alcançou a primeira entre as outras, em que as Artes, e Sciencias chegáraó ao mais elevado ponto de glória, e de reputaçao, naō perdem OC occafiaō de lêr, de eftudar, e de ap petecer todos os Livros com que poffao nutrir a sua alma e desabufar-fe. > Ora eftando eu perfuadido de que efta Naçao to gloriofa, como fábia me tem honrado com a acceitaçao, que tem feito de todas as Obras, que ou a inftruaō, ou a deleitem, me animei a mandar traduzir o célebre e douto Poema de JOAÖ MILTON intitulado o Paraifo Perdido com muitas Notas Hiftoricas, Mythologicas, e Geograficas, e as Obfervações de Mr. Addiffon; como tambem o Paraiso Ref taurado outro Poema do mefmo Author. > O crédito de MILTON, e a belleza do feu Poema, as expressões ener gicas, e fublimes, com que fe adorna he bem conhecido de todos os Sábios. Nelle fe encontra a Moral pura, e a mefma Religiao. O conhecimento do que he o homem, os attributos da Divindade, o peccado, e as def iii defordens da vida humana, a eterna Bemaventurança, pulao aos olhos de todos neste Poema; de maneira que nelle fe acha de mistura o deleite com o util. Até agora ninguem pode criticar a MILTON, fenaō algumas pinturas, e defcripções ou frouxas ou dilatadas; porém comparadas com as bellezas, que tem, eftas fazem efquecer o que nao he taō bom. Quanto mais que, fe fe reflectir que efte Poeta floreceo no Seculo decimo fexto, e que por confequencia havia de fer tocado do gosto dominante, que quafi fempre arraftra os homens, ainda que grandes, tem defculpa. Com tudo o grande Addiffon, que floreceo, e vogou no fim do Seculo décimo fetimo, naõ duvidou chamar a MILTON o Homero Inglez. Tambem devo de paffagem precaver os Leitores da mordacidade de alguns Criticos que queirao confutar a Obra de MILTON na Poefia ii tras zen , zendo á lembrança vários paradoxos que elle tem em algumas Obras politicas, e de Estado. Bem póde qualquer fer bom Poeta, e máo Politico; bom Politico e máo Poeta. He certo que tudo devia ajudar, e concorrer para a perfeita compofição do Homem ; mas nem todos pódem tudo. Em MILTON he defculpavel o querer pairar com hum Tyranno, de quem talvez pro vieffe a fua felicidade; o genio da Naçao, as circunftancias do tempo, af fanhado por infames guerras civís, o fer dotado de hum genio agudo, e infinuador, o fer procurado pelos Partis diftas, tudo ifto o obrigou a moldar fe ao capricho de homens revoltofos, defobedientes, e efquecidos do Direito Natural, e das Gentes, e até dos principios da Religiaō, para dobrar ao feu partido o refto dos mais homens com efcritos amotinadores, e contrarios á devida, e imprefcriptivel obediencia, que os Póvos devem, tanto por temor, como por confciencia ter aos feus |