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cias em que Milton estava como Poeta antes de escrever este, e o antecedente Livro que deviam finalizar a sua Epopeia.

Sendo huma das principaes regras do Poema Epico, que o seu acabamento, ou resultado final seja feliz, pelo triumpho de todas as difficuldades, ou contrastes, que o Heróe deve encontrar, e vencer; era preciso ao Poeta que Adão fosse feliz na sua mesma desgraça, vindo a triumphar de todos os esforços de Satanaz. Já este seu terribelissimo contrario estava debellado e reduzido a Dragão nos Infernos, comendo as cinzas do incendio que ateára com a supposta arvore da sciencia; mas Adão ainda não apparecera feliz; e o não podia ser em quanto não tivesse a certeza da sua Redempção, adquirindo por ella em vez da vista, e gozo do Paraiso terreste, a da Visão Beatifica em os prazeres da celeste Jerusalem. Tal foi por consequencia o thema dos dous ultimos Livros do Poema do Paraiso Perdido; e tendo eu ja exposto as minhas reflexoens e notas sobre as principaes bellezas do undecimo Canto, apontarei agora algumas das que se encontram neste ultimo Livro.

Depois de ter o Poeta no Canto undecimo apresentado á vista de Adão todo oprimeiro periodo da historia do Genero humano, neste duodecimo e ultimo Livro, sendo-lhe impossivel expor em visoens o

Verbo Divino em acção sobre a Terra, e os mysterios mais sublimes da nossa crença sem faltar ao decoro, e á ordem natural em huma historia tão vasta e complicada, e tudo no breve tempo que devia preceder a sahida de nossos Pais do Paraiso ; fez narrar a Adão os successos mais importantes do segundo periodo do Mundo pelo Archanjo Miguel, com toda a dignidade e magestade propria do assumpto, e das grandes verdades evangelicas. Os criticos mais severos pertendem que Milton devia continuar a expor por Visoens o ultimo periodo da Historia Sagrada; porém o Poeta sacrificou á variedade dos seus quadros algumas conveniencias, sem que neste lugar o maravilhoso tivesse falha; e devemos escusar o Cantor Britannico em razão das bellas descripcoens, e pensamentos que nos dá dos assumptos mais poeticos da Sagrada Escriptura, da qual, e das ideas Theologicas mais depuradas elle não se apartou em toda a sua narração, antepondo aos rasgos poeticos a identidade das cousas, palavras, e proposiçoens.

Comtudo Addisson confessa que esta narração hé rapida e animada, quando o assumpto permitte os ornamentos poeticos, como o comprova a pintura da confusão, em que se acharam os operarios da Torre de Babel, e a descripção das Pragas do Egypto, principalmente a da tempestade de granizo, e trovoens, a das trevas que cobriram per espaço

de tres dias toda a Plaga Egypcia; pois que nellas se encontra grande belleza, e energia; tirando de Ezechiel o nome de Dragão, ou Cocodrilo, que dá ao Rei Pharaó pela grande quantidade que delles produz o Nilo.

Na mesma descripção se encontra huma imagem grande e poetica copiada do Pentatheuco. Querendo Milton dar a Adão huma idea da Segunda Pessoa, que deve resgatar o Genero humano, e leva-lo de novo á felicidade, e perfeição que tinha perdido, faz com que o Anjo aponte a Raça de Abraham como aquella de que deve nascer o Messias feito Homem, e mostra o Patriarcha das Tribus de Israel viajando já pela terra promettida; circunstancia que dá huma viveza e elegancia particular a'quella narração: e tanto o Poeta teve em vista o 8° Livro da Eneida para formar aquelle episodio, que hum dos versos delle hé a traducção fiel do de Virgilio, quando Anchises nomeando diversos lugares pelos nomes que viriam a ter diz

Hæc tum nomina erunt, nunc sunt sine nomine terræ.

VIRG.

Things by their names I call, though yet unnam’d.

MILT.

Agora o Poeta toca a meta que se propôs, fazendo Adão vencedor, e o Leitor acompanha-lo no seu

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triumpho do Inimigo da Especie humana. Eis aquî a feliz Peripecia pela allegria e satisfação que Milton dá a nosso Padre, e nós mesmos experimentamos onvindo fallar do Messias, seu e nosso Redemptor. Está a desgraça mudada em felicidade, e o peccado chamado pela Igreja á face dos Altares ó felix culpa.» Logo que nosso Pai primeiro vê através os typos, e as figuras a vinda do Filho de Deus ao Mundo, elle se allegra; porém quando se lhe apresenta a Redempção do Homem completa, Satanaz para sempre confundido, e o Paraiso celeste restaurado, se transporta de allegria em hum extasis divino. Eis aquî finalmente o quadro magnifico que sella o Poema: no meio do seu triumpho Satanaz fica ainda mais desgraçado; e Adão do centro da sua miseria triumpha: está o nó desatado, e a fabula epica terminada e completa: e esta bella idea nos convence da necessidade destes ultimos e maravilhosos Cantos, dignas concepçoens de Milton. Elle conclue a sua Epopeia com toda a nobreza pela scena da sahida de Adão e Eva do Paraiso. Todo o elogio hé diminuto á arte com que o Poeta desenhou este ultimo painel, e ás circunstancias de que revestio esta acção. A dura necessidade de deixarem aquelle lugar de delicias; o espectaculo da Milicia celeste que os vai seguindo; a vista da Espada fulminante que embaraça o seu regresso, e nova entrada n'aquelle Jardim de Deus; os olhos tristes que involuntariamente lançam os dous Esposos para

aquelles lugares onde tinham toda a sua complacencia; os passos lentos com que sahem, apoiando se hum sobre o outro, para encontrarem no deserto huma nova patria: todas estas clausulas, e' circunstancias formam hum composto de maravilhas, e bellezas que nos movem, deleitam, e admoestam.

Alguns criticos acham diminuta a narração deste duodecimo Livro, por que o Poeta não fizera especial menção do Maná do deserto; outros por que não expendêra todos os milagres de Jesus Christo; e muitos finalmente condemnam o Poeta, porque, segundo elles dizem, sendo estes dous ultimos Cantos do Poema meros episodios, não podiam ter lugar no fim delle. Eu acho que Milton narrou mais do que devêra narrar; que huma descripção epica não hé huma historia completa em todas as suas circunstancias; e que estes dous ultimos Cantos não são episodios mas partes integrantes da Acção principal; pois sem aquelles Livros não teriamos a feliz peripecia da felicidade futura de nossos primeiros Pais, nem o complemento da Epopeia pela sahida delles do Paraiso. Já disse que segundo a definição de Aristoteles a Epopeia pode ser simples, e composta. A primeira hé aquella que nos faz amar a verdade, e a virtude; e a segunda hé a que junta ao fim da primeira o da tragedia, movendo-nos ao mesmo tempo pelo terror e compaixão. O D'Johnson, rigido e sabio critico, diz que este Poema de Milton

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